O jovem do ponto de ônibus

O jovem do ponto de ônibus

Manaus - A abordagem policial é imprescindível para se desenvolver uma segurança 'relativamente' boa para qualquer região, e uma situação chamou muito minha atenção neste domingo (11), na véspera do dia das crianças. 

Eu estava a caminho de um café da manhã com minha mulher, quando vi uma abordagem de policiais militares a um jovem, que aparentava ter idade entre 16 a 19 anos. Não era nenhuma criança, mas a situação foi um pouco diferente para quem passava pela localidade. O garoto, pardo, com uma mochila em um ponto de ônibus estava sendo abordado por policiais militares, a viatura entre a calçada e parte da via, aquilo chamava atenção de quem passava, pois o giroflex estava ligado com suas brilhantes cores azul e vermelho. O horário beirava as 7h, os policiais pediam para o mesmo abrir a mochila dele. O olhar do jovem era de apreensão, o lábio estava incolor e a curvatura da coluna mostrava o medo de algo.

Olhei rapidamente pelo retrovisor e não acompanhei a situação até o final, fui embora, não parei para perguntar do que se tratava, não liguei para Companhia Interativa Comunitária (Cicom), para assessoria de comunicação e nem para o Supervisor de Área, não sei se ocorreu algum caso de roubo, homicídio e furto na região, não sei se o rapaz foi encaminhado para a Delegacia Especializada em Apuração de Atos Infracionais, enfim, mas várias dúvidas ficaram na minha cabeça.

Uma é o que um jovem fazia naquele horário tão cedo em uma parada de ônibus? Estudar? Trabalhar? Estava indo para casa dos pais? Pais são separados? Voltava de uma balada clandestina? É um menor infrator conhecido da polícia? Não sei. Outras perguntas me deixaram até agora bem integrado e se o garoto fosse branco seria abordado pela polícia? Não sei também. Não sei qual o critério de um abordagem, o potencial de um suspeito. Não fiz curso policial, mas será que aquele jovem era um criminoso de alta periculosidade? Quantas vezes isso já aconteceu com alguém? Com o cidadão comum? Com um inocente?

Ainda vou mais além, nesta semana, a história de um pedreiro que foi abordado em um ônibus na Zona Leste de Manaus, detido e depois liberado da delegacia demonstra que o tom da pele foi critério de abordagem, na verdade, o desenrolar dessa situação mostrou que a palavra da vítima valeu mais que uma minuciosa investigação policial. Na verdade, essa situação jurídica do pedreiro se caso for constatada com uma abordagem errada pode ter uma grande reviravolta para o homem abordado. Enfim, para ir mais além nesse assunto de abordagem: Neste ano também tivemos vários casos no mesmo naipe dessas duas situações que terminaram em tragédias nos Estados Unidos da América, aqui no Brasil também.

Não é fazer juízo de valor, não é desmoralizar o trabalho de policiais honrados, com diversos cursos, concursados, batalhadores, pais de família, mas é saber qual o critério para uma abordagem. É um tom de pele? É vestir uma roupa diferente? É andar em uma área periférica? Realmente eu não sei. E não será esse texto, estudos em universidades ou até mesmo qualquer achismo que mudará a cultura de um ser humano. Nascemos com conceitos, desenvolvemos ao longo do tempo um mundo de ideias e colocamos em prática diariamente a nossa educação. O ser humano sempre será alvo de julgamentos, infelizmente, e essa é a triste realidade que dura há séculos no nosso planeta.

 

Thiago Monteiro - Jornalista e Editor do Hora AM